No dia 15/12/2014, o Jornal Nacional fez uma matéria sobre os conflitos entre ciclistas, motoristas e pedestres no trânsito. A pauta é boa, mas a construção da redação merece algumas correções!
Segundo o JN,
“Um número cada vez maior de brasileiros passou a usar bicicleta como meio de transporte. E esse movimento saudável, tanto para eles quanto para as cidades, acabou criando algumas dificuldades de convivência com os motoristas e os pedestres.”
Não é o aumento de ciclistas que criou dificuldades. Culpar o aumento de ciclistas é injusto. As dificuldades sempre estiveram aí, e os pedestres sabem muito bem disso.
Ainda segundo o JN:
“Pedalar é uma alternativa para tirar carros das ruas, diminuir a poluição e não perder tempo no trânsito. Mas se sobram motivos para usar a bicicleta, falta espaço.”
Se cada ciclista decidisse abandonar sua bicicleta e comprar um carro, aí sim faltaria espaço. A origem dos conflitos no trânsito no Brasil é muito mais uma questão de educação e políticas públicas do que de infraestrutura. Os motoristas brasileiros, em sua maioria, não conhecem o Código de Trânsito, o que demonstra que os órgãos responsáveis pelos Departamentos Estaduais de Trânsito (DETRANs), falham ao conceder a Carteira Nacional de Habilitação. Um exemplo é o Artigo 201:
Art. 201: “Deixar de guardar a distância lateral de um metro e cinqüenta centímetros ao passar ou ultrapassar bicicleta: Infração – média; Penalidade – multa.”
O Código de Trânsito Brasileiro (Lei Federal 9.503, de 1997) foi criado com base nos Códigos de Trânsito vigentes na maioria dos países Europeus, onde há uma clara hierarquia civilizatória no trânsito: Em 1º lugar os pedestres, em 2º lugar os ciclistas e em 3º os veículos motorizados. A lógica é que o maior (mais forte) deve proteger o menor (mais vulnerável). Esta hierarquia está na Lei também:
Art. 29. (…) § 2º Respeitadas as normas de circulação e conduta estabelecidas neste artigo, em ordem decrescente, os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres.
Mas eu tenho Carteira de Habilitação e não sabia disso!
Infelizmente não há uma preocupação política dos órgãos legisladores em relação à humanização do trânsito. Pernambuco e Paraná são exceção e saíram na frente. Agora nestes Estados as provas elaboradas pelos DETRANs para conceder Carteira de Habilitação devem contar obrigatoriamente um percentual de questões sobre a convivência no trânsito entre motoristas, ciclistas e pedestres. Com isso espera-se que todas as auto-escolas advirtam previamente seus alunos sobre as questões obrigatórias nas provas do DETRAN.
Ainda podemos citar outros Artigos que falam da convivência no trânsito:
Art. 38. Antes de entrar à direita ou à esquerda, em outra via ou em lotes lindeiros, o condutor deverá: (…) Durante a manobra de mudança de direção, o condutor deverá ceder passagem aos pedestres e ciclistas, aos veículos que transitem em sentido contrário pela pista da via da qual vai sair, respeitadas as normas de preferência de passagem.
Art. 214. Deixar de dar preferência de passagem a pedestre e a veículo não motorizado: (…) Infração – gravíssima; Penalidade – multa.
(veja mais no Vá de Bike)
O assunto é sério. Quem falha são os Estados brasileiros por meio dos DETRANs, que não dão a devida importância para a direção defensiva.
É de extrema importância que o meio jornalístico continue pautando a questão dos conflitos no trânsito. Mas se não tratarem esta pauta com profundidade e pesquisa, afim de transmitir informações esclarecedoras, estarão meramente reproduzindo o senso comum.
O ciclista também tem responsabilidades. Todos têm. Como pedestre vira e mexe levo um susto. Os ciclistas também têm que saber se comportar quanto aos carros, fazendo manobras seguras, não dando fechadas, entre outras . Levam dois para dançar um tango!
Ontem um ciclista deu uma fechada em mim, eu reclamei educadamente, e ele deu um soco no capô do carro e jogou a bicicleta no meu carro. Foi uma violência absurda! Estou revoltada. Quando alguém faz isso, gera um mal estar. Agora vou olhar torto para todo ciclista? Por que ele fez isso? Um homem dar um soco no capô do carro e jogar sua bicicleta sobre meu carro? Até os frentistas do posto ao lado vieram reclamar dele, que fugiu, como bom covarde. Faz isso pois é mulher no volante??? Ahhh, isso foi em São Paulo.